quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Bolo e flor de maracujá. saudade e poesia.



Essa receita segundo uma anotação que não é minha em meu caderno de receitas é atribuída à duas pessoas: minha prima W. e uma amiga de Ribeirão Preto, S., sendo que, na verdade, só me lembro desta última como a origem desse bolo de maracujá, que tem fiéis admiradores e consumidores na minha casa, inclusive eu. 

O maracujá é uma fruta multifuncional, de sabor marcante e agradável, pois vai do suco ao bolo, passando por caldas e musses doces, e molhos salgados excelentes para acompanhar peixes,  mas são as lembranças da amizade e gratidão que sinto por S. e seu marido E., que nunca mais pude ver pessoalmente mas que foram bons companheiros de escola waldorf  e bons amigos com os quais celebrei o natal do ano de 2002 (eu acho), assim como também a poesia de Catulo da Paixão Cearense, que eu encontro no perfume desse bolo que assei nesta última segunda-feira, e todas as vezes que faço. Saudade e poesia combinam, dão-se bem, assim como o maracujá e quase tudo o que se coloca ao lado dele no fogo e na mesa.  


"A Flor do Maracujá

Encontrando-me com um sertanejo perto de um pé de maracujá eu lhe perguntei:  Diga-me caro sertanejo  porque razão nasce roxa  a flor do maracujá?

Ah, pois então eu lhi conto a estória que ouvi contá, a razão pro que nasci roxa  a flor do maracujá.

Maracujá já foi branco, eu posso inté lhe ajurá, mais branco qui caridadi, mais brando do que o luá, quando a flor brotava nele lá pros cunfim do sertão. Maracujá parecia  um ninho de argodão.

Mais um dia, há muito tempo, num meis que inté num mi alembro, si foi maio, si foi junho, si foi janero ou dezembro, nosso sinhô Jesus Cristo  foi condenado a morrer numa cruis crucificado, longe daqui como o quê.

Pregaro cristo a martelo e ao vê tamanha crueza  a natureza inteirinha  pois-se a chorá di tristeza.

Chorava us campu, as foia, as ribera, sabiá também chorava nos gaio da laranjera.

E havia junto da cruis um pé de maracujá carregadinho de flor, aos pé de nosso sinhô.

E o sangue de Jesus Cristo, sangui pisado de dô, nus pé du maracujá tingia todas as flor.

Eis aqui seu moço a estoria que eu vi contá,a  razão proque nasce roxa  a flor do maracujá." 

(Catulo da Paixão Cearense)

Para fazer o bolo comece batendo claras em neve com uma pitadinha de sal para garantir o resultado e, separadamente, as gemas peneiradas, o açúcar e a manteiga até que clareiem, formem um creme espesso e dobrem de volume. Incorporar ao creme de gemas, sem bater, a polpa de maracujá, que eu utilizo com sementes tanto para a massa quanto para a calda. Em seguida acrescentar, agora batendo, a farinha de trigo também peneirada previamente e, ao final, incorporar delicadamente, novamente sem bater, as claras em neve e o fermento químico em pó. Levar ao forno a 180 graus em forma de aro, untada e polvilhada com farinha de trigo, por aproximadamente 40 a 45 minutos. Faça o teste do palito para checar quando a cocção está completa.

Fazer uma calda rala com a fervura de polpa de maracujá e açúcar que deve ser derramada sobre o bolo ainda quente, mas não imediatamente após sair do forno pois nesse caso não conseguirão desenformar sem quebrar, ou seja, tire do forno, aguarde o bolo mornar, desenforme, e torne a calda por cima.

Receita:

Para o bolo:
2 xícaras de chá de polpa de maracujá (natural)
2 xícaras de chá de farinha de trigo
2 xícaras de chá de açúcar refinado
4 ovos (claras e gemas separadas)
100 gramas de manteiga
1 colher de sopa (de mãe) de fermento químico

Para a calda:
1 xícara de chá polpa de maracujá (natural)
1/2 xícara de chá de açúcar refinado

Nenhum comentário:

Postar um comentário