quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Para noites frias um (novo) mingau de aveia transformado por convite e sedução. Cozinha e divã.


Para as noite frias, mingau de aveia é uma boa opção. Na verdade, até uns 10 anos atrás nunca havia comido mingau de aveia, que é uma preparação geralmente destinada às crianças. Minha mãe não fazia mingau e ao invés dele nos alimentava, a mim e a meu irmão, quando pequenos, com polenta. Fui apresentado ao mingau  há alguns anos, quando cozinhei como voluntário algumas vezes para grupos de jovens que preparavam-se para tornarem-se monitores de colônias de férias para crianças e, depois, para crianças da própria colônia. Nessas colônias já era uma tradição servir mingau de aveia no café-da-manhã, em geral acompanhado de frutas frescas picadas (da estação), cujo único segredo da preparação é deixar de véspera de molho no leite os flocos (grossos) de aveia, para na manhã seguinte cozinhar em fogo brando até que engrosse, e depois acrescentar pouco açúcar ou mel, ou ainda somente as frutas.

Domingo passado, dia dos pais, ganhei dos meus filhos um livro chamado "Meu Primeiro Jantar Vegetariano", de uma autora de nome Alice Hart (acho que é isso), brasileira moradora de Londres. A primeira receita do livro, na parte de cafés-da-manhã e brunchs, é um mingau de aveia incrementado, cujo processo de preparação é o mesmo que eu descrevi acima, mas ela inclui tâmaras secas, lascas de amêndoas torradas e xarope de maple (bordo) ou mel. Como nunca experimentei esse xarope de bordo, ontem à noite optei pelo mel de abelha de flor de laranjeira e substituí as tâmaras por damascos que eu hidratei e as amêndoas por lascas torradas de castanha-do-pará que eu mesmo preparei.

O resultado foi muito bom, embora ao hidratar os damascos eu tenha aberto mão de um tanto de sabor (que acabou ficando na água) e da textura mais firme que a fruta possui antes de hidratar. Não sei se foi uma boa ideia. Da próxima vez ou procuro as tâmaras ou uso o próprio damasco ou qualquer outra fruta, mas sem hidratar, para preservar esse contraste de texturas no mingau, uma vez que a aveia, depois do molho de véspera, fica muito macia.

De qualquer maneira foi uma inovação no mingau que meus filhos e eu estávamos acostumados a ter em nossa mesa. Fico espantado comigo mesmo, com minha pouca iniciativa de buscar outras formas, outras linguagens, outros olhares, outros ingredientes, outros processos, em relação aqueles que em minhas zonas de conforto estou habituado, especificamente quando o assunto sou eu mesmo. Penso que seu eu fosse mais livre ou corajoso não precisaria abrir um livro e constatar que, para quem fez por anos mingau com frutas frescas, seria possível acrescentar as secas e qualquer castanha. Mas sou assim mesmo: evito riscos, sou medroso às vezes, em geral opto pelo conhecido quando o objeto explorado se confunde com minha alma desprotegida.

Não esperava que meu livro de receitas me ensinasse que na vida é preciso "sair da caixinha", fazer as coisas de forma diferente, amar a vida, a si mesmo e as pessoas cada dia de maneira nova, renovada, diferente, para que continuemos a aprender, a evoluir, a crescer. Abandonar o medo e arriscar é um desafio que para mim é bastante difícil. Um livro de receitas ou um manual de psicanálise?

Receita
1 litro de leite
5 colheres de sopa (bem cheias) de aveia
50 g de castanha-do-pará
70 g de damascos secos
mel o quanto baste

2 comentários:

  1. Ivan, sinceridade? Vejo a sua ação frequente em direção à saída da caixa. Com ou sem livro de receitas, é isso que você anda fazendo na vida, caso não tenha percebido! rsrsrsrs

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  2. rsrsrsrsrs....finjo que não percebo, Ana...fica mais leve....srsrsrs

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