sexta-feira, 19 de julho de 2013

Ikebana. Faz tempo que eu não faço



Nem sei quem ainda se lembra que eu sou professor de ikebana. Eu obviamente nunca me esqueço, especialmente porque conservo da época em que ensinei essa milenar técnica artística japonesa que, basicamente, busca dispor flores e galhos naturais em vasos, de forma harmônica e esteticamente equilibrada, o que de mais valioso recebi: amigos. João Carlos, Aparecida, Amélia, Andréa e Solange, esta última de Ribeirão Preto, apenas para citar alguns e os que aqui não foram citados por favor me perdoem.

Um dia eu conto como cheguei à prática de ikebana, mas para quem me conhece a menos tempo, pelo menos quero registrar que foi a importância que a Igreja Messiânica Mundial do Brasil, a qual fui filiado 20 (vinte)anos, atribui à arte como sublime atividade humana e linguagem para busca de evolução espiritual, que me fez superar meus próprios limites e praticar ikebana, chegando a ser titulado professor. Certamente através das flores cresci um pouco na minha capacidade de olhar e compreender o ser humano, o outro e a mim mesmo, uma vez que a ikebana é uma forma de buscar e encontrar equilíbrio, paz e serenidade interior.

Em outras oportunidades ainda volto a falar sobre a ikebana como um "caminho de auto-conhecimento", e que é sua face mais nobre e sem dúvida a mais importante, mas hoje apenas quero comentar a beleza e alguns aspectos da composição dessa foto que eu publiquei e que, obviamente, não é de um trabalho meu: é uma composição que eu chamaria de "livre", uma vez que não segue uma estrutura pré-determinada de colocação, tamanho e posição das flores e galhos, em que podemos encontrar um agrupamento de galhos finos que não consegui identificar a espécie, mas que servem como "linhas", ou sen, em japonês, e dão altura, força e profundidade ao arranjo, sendo importante que tenha folhas, como é o caso, para que transmita a sensação de vida e vigor. As flores dispostas em forma de maço, ou massu, em japonês, conferem muito volume à composição e são especialmente suas cores, vermelhos e amarelos, que emprestam força ao arranjo, sendo dispostas com pequenas diferenças de altura entre si, o que fixa o dinamismo que o autor provavelmente quiz mostrar, além da diversidade elegante que as diferentes formas e, sobretudo, texturas das flores deixa bem claro.

Notem que o apanhado de galhos, em conjunto, deve ter aproximadamente o tamanho de 3 (três) vezes a altura do vaso acrescida do seu diâmetro, tamanho que a boa técnica manda realmente obedecer, e que há uma diferença de alturas bastante expressiva entre os dois principais elementos do arranjo, quais sejam o "conjunto de linhas" e o "maço de flores", recurso arrojado que dá movimento à composição, ao mesmo tempo em que há um equilíbrio de força entre esses mesmo elementos: linhas e maço de flores estão harmoniosamente em igual grau de força na composição.

Por fim, o vaso é bonito também, de forma simples, redonda, para valorizar o material do qual foi feito, me parecendo uma cestaria, ou algo que a imita.

Aprendi com a ikebana a, diante da vida, reconhecer os momentos em que é preciso silenciar, observar e, com isso, respeitar, como quando admiramos por exemplo o material antes de montar a composição, para encontrar nele os melhores e mais bonitos angulos, movimentos e características , aceitando-o como é e reconhecendo que mesmo em um galho envelhecido e retorcido certamente podemos encontrar alguma beleza, ainda que seja apenas aquela que espelha a ação do tempo.

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