quarta-feira, 31 de julho de 2013

Idas e vindas, escolhas, dúvidas e bolinhos de carne moída, empadão goiano e quenga. Primeira parte.



Ontem à noite fiz bolinho de carne moída; uma coisinha simples que aprendi recentemente, nos tempos em que minha filha foi recebida, quando chegou a São Paulo no início do ano passado, para uma temporada na casa da minha prima, onde comeu esse bolinho feito pela minha tia R., até que eu tivesse uma casa para recebê-la, o que só aconteceu em março do mesmo ano, período que, segundo o meu olhar, coroou um longo processo de partidas e retornos e recomeços e buscas e tentativas, algumas que eu persisto em indagar, diante de mim mesmo, se fizeram, faziam ou fazem algum sentido.

Na época em que fui casado andei um pouco por aí e levei a prole junto. Minhas andanças começaram em 1993, por força de um convite de trabalho e motivado inicialmente apenas pela oportunidade de ascensão profissional. Apoiado pela então companheira "subi o São Francisco", com ela e o Diogo, como eu costumo dizer, numa metáfora errante, e cheguei em Goiás, onde passei 2 (dois) anos, na primeira etapa. De lá retornei a São Paulo, em 1995, onde na oportunidade permaneci aproximadamente 2 (dois) anos, quando a Lígia nasceu e, em 1998,  subi de novo o São Francisco, desta feita para desembarcar em Ribeirão Preto, onde fiquei até final de 2004, nessa oportunidade já motivados por viver em um contexto que nos permitisse a escola waldorf para o Diogo e em resposta a um bom convite profissional. O ano de 2005 foi marcado por um desastroso retorno a Goiás, totalmente pressionado pelo desemprego e ausência de oportunidades em Ribeirão, desastroso em todos os sentidos: contrariedade pessoal em voltar, casamento falindo, afastamento da escola waldorf e da antroposofia, impacto da escola convencional, empresa em crise. Desse tempo uma das poucas boas lembranças é o empadão goiano que aprendi a fazer com minha amiga N., advogada de Goiânia que atualmente vive em Porto Alegre, um verdadeiro manjar dos deuses do cerrado, e que um dia eu faço e ensino por aqui.   

Inaugurei 2006 em Botucatu para onde fomos em uma atitude arriscada, sem trabalho, em busca da viabilidade na continuidade da escola waldorf nas vidas dos nossos filhos, impactados negativamente pela tentativa de uma escola convencional nessa nossa segunda estada em Goiás. Em Botucatu estive até retornar a São Paulo, já separado definitivamente, em meados de 2010 e de onde não pretendo sair, embora os filhos ainda tenham lá permanecido até o final de 2011. De Botucatu tenho doces e amargas recordações, todas misturadas, como devem ser, imagino, as lembranças de todos os tempos, em qualquer lugar, de qualquer pessoa.

Eu conto essas idas e vindas tendo por base o núcleo familiar. Nesse período último em Botucatu, sem a transferência da família, eu  ainda trabalhei novamente em Ribeirão e por 2 longos anos na região de São José do Rio Preto, mais precisamente em uma cidadezinha chamada Orindiúva, na barreira do Rio Grande (lado São Paulo). Lá eles comem uma prato chamado "quenga", à base de milho e frango, uma espécie de angú que eu ainda vou ensinar e, em Rio Preto, como em São Paulo a gente encontra coxinha em qualquer bar, encontra-se bolinho de carne com massa de mandioca. Tenho muitas memórias de coisas que eu comi por essas minhas andanças, como por exemplo a melhor ambrosia que já provei na vida, digna de comer rezando, em uma fazenda do amigo de um amigo, A., na cidade de Piracanjuba, "estadão" de Goiás.

Os bolinhos eu fiz ontem para um simples jantar em casa do qual participou um amigo do meu filho Diogo, de Botucatu, recém formado tecnólogo em construção naval e que partiu, na madrugada de hoje, para Manaus, iniciando sua vida profissional, e a estória se repete na vida de todos nós, com a ida desse amigo para um local tão distante, deixando pais, irmãos e amigos, resultado de uma escolha. Fez um pit stop em casa ontem. Enquanto eu fiz o bolinho conversamos os 3 sobre as vantagens da ida dele para |Manaus, sobre oportunidades profissionais fora dos grandes centros, sobre a vida e tomamos caipirinha.

Aproximadamente 900 gramas de carne moída duas vezes, refogada com bastante cebola apenas, em óleo neutro, sem sal inicialmente, e salgado somente no final, para soltar um pouco de sua umidade que eu aproveito, no mesmo momento em que junto azeitonas verdes picadas. Uma vez refogada a carne acrescento, em fogo baixo, para essa quantidade, 2 colheres bem cheias de farinha de trigo e deixo cozinhar rapidamente, uns 5 a 7 minutos, resultando em algo parecido com recheio de pastel cujas carnes não ficam caindo do pastel, mas sim cremoso. Desligo e acrescento ovos e salsinha ambos bem picadinhos. Deixo esfriar. Boleio a carne em forma de croquetes grandes, passo por ovos batidos e salgados e por farinha de rosca, em um processo de empanamento, sendo que quase sempre prefiro a farinha de pão.

Frito rapidamente em óleo abundante, já que todos os ingredientes já estão cozidos. Na verdade esse bolinho é ideal para reaproveitar aquela carne moída que sobrou na geladeira. Minha filha pediu semana passada. Ela adora. Servi com salada de mandioquinha cozida e bastante salsinha picada e brócolis no vapor, arroz e feijão.

Tenho dúvidas sobre os acertos e erros das minhas escolhas mas situações como essa, em que um amigo se despede de São Paulo jantando conosco, um amigo feito em Botucatu, onde eu amarguei momentos pessoais muito difíceis, me fazem ao menos saber que valeu a pena ter ido, ter voltado, ter feito escolhas pouco seguras, pouco convencionais. Em cada uma das estações dessas viagens fiz amigos e a existência deles me sinaliza que a escolha não poderia ter sido outra. Meus filhos e seu processo de formação escolar também me trazem a mesma certeza pois a escola waldorf que foi o principal motivo de nossas idas e vindas ainda me fala como a única em que eu confio para uma formação realmente humana e integral de uma criança.

Ainda vou fazer novamente o empadão goiano e a quenga. 

Espero que nosso amigo I. tenha sucesso em sua nova jornada e também faça amigos, como eu fiz. 


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