quarta-feira, 17 de julho de 2013

O tricot e a capacidade para o "fazer". Mais um pouco do meu olhar sobre pedagogia waldorf (e que me perdoem os professores e catedráticos pelas faltas que cometo).

Desde que meus filhos ainda nos primeiros anos de suas vidas escolares fizeram trabalhos de tricô e crochê eu queria tentar fazer, até porque pensava ser incrível como crianças aprendiam a executar um trabalho que me parecia tão complicado. Como a mãe deles, à época, era a encarregada de no ambiente de nossa casa praticar esse tipo de atividade, por aptidões naturais, eu deixei de lado meu interesse.

Quando retornei a São Paulo não é novidade para quem me conhece que me reaproximei de amigos e primos que foram de fato a tábua que me sustentou quando eu naufragava. Dessas pessoas uma prima foi ,e é, muito especial, até porque acolheu minha filha nos seus primeiros meses aqui, até que eu tivesse a estrutura material necessária para recebê-la, ou seja, até que eu tivesse minimamente uma casa para morar. Esse minha prima é uma exímia e talentosa artesã, praticando várias técnicas e linguagens do artesanato, inclusive o tricô que finalmente aprendi, ano passado a fazer com ela. No último inverno produzi 5 cachecóis, todos de "ponto tricô" que, até 1 semana atrás, era o único que eu sabia fazer. Meus filhos chamam esse ponto, como em todas as escolas waldorf, de "ponto novo" pois é o primeiro que eles executam.

Passado 1 an continuo achando o tricô complicado. Eu faço quase que mecanicamente e, às vezes, olho para minhas mãos e não consigo formar uma imagem dos laços que dou para fazer o ponto. Se alguém me pedir para desenhar os movimentos das agulhas para que o ponto seja executado, certamente terei muita dificuldade em fazê-lo. Eu não fui um aluno waldorf que aprende pelo "fazer". Fui um aluno convencional a quem foi demandado apenas que abstraísse o conhecimento a partir dos conceitos teóricos sobre o fato e não da vivência prática e real do objeto da aprendizagem e, talvez por isso, desde criança tenha dificuldade com o "fazer" específico de tarefas, sobretudo aquelas que exigem raciocínio espacial. Se alguém me perguntar qual agulha passa quando, por cima ou por baixo, eu terei que pensar bastante para responder, já que faço o ponto tricot mecânicamente. Sabedor disso estava ansioso para aprender outro ponto e, de alguma forma, dar continuidade a esse "processo de aprendizagem" que eu tardiamente iniciei, como oportunidade para tentar melhorar esse minha deficiência. Tentei o ponto "meia (ponto "velho" para os meus filhos), mas não consegui. Neste último final de semana vi na tv uma pessoa fazendo um ponto chamado "fantasia" que de diferente apenas repete 3 vezes a "laçada" que se dá no ponto tricô. Achei tão fácil que tentei e consegui. Estou produzindo mais um cachecol para minha filha, vermelho, que vou fotografar e postar aqui, embora ainda esteja no meio da execução.

 Os trabalhos manuais além de conferirem a quem faz, seja criança ou adulto, uma certeza que é a pessoa é capaz de realizar, é competente para o "fazer", resgatam algo que se perdeu no tempo relativamente ao trabalho concreto do ser humano, que ao contrário do passado hoje depende quase que exclusivamente da sua capacidade de pensamento (abstração), qual seja essa "capacidade" de ação concreta, de transformar efetivamente o mundo através da manipulação das matérias primas (lembremo-nos dos sapateiros, alfaiates, padeiros que eram muito mais numerosos no passado e foram na atualidade substituídos por máquinas e processos), e ainda permitem que se viva um ciclo completo do "fazer" através da experiência do início, meio e fim de um trabalho. Dizem, ainda, que os trabalhos manuais colaboram na manutenção da sanidade, da saúde "psico-alguma-coisa" dos idosos. Como também já estou ficando velho (51), acho que as manualidades só me trazem benefícios.

Por fim, realmente para mim é um processo terapêutico, no sentido de ser profilático, pois me permite "limpar" um pouco que seja os ruídos que invadem minha alma nesse dia-a-dia maluco da vida que vivemos. Quando tomo nas mãos as lãs, linhas e agulhas e concentro meu olhar e movimentos nelas é como se eu, por alguns momentos, voltasse o olhar para meu próprio interior e fosse retirando os miasmas que as interferências externas de toda ordem vão metendo na minha alma, a fórceps, ainda que faça isso com a tv ligada. Quando eu morava em Ribeirão achava graça quando buscava meu filho na escola e via os meninos e meninas fazendo tricô na praça Rudolf Steneir, sentados em banquinhos de concreto, ou de madeira por entre a vegetação que abraça a Escola Aitiara, em Botucatu,quando era minha filha que eu procurava no final do dia letivo.

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